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quinta-feira, 2 de julho de 2015

O filho pródigo e o ser indivíduo de verdade


Já li e ouvi bastante coisa sobre a parábola de Jesus sobre o filho pródigo.

Gostaria de aproveitar a parábola de Jesus de Lucas 15 como pano de fundo para uma analogia mais real e atual. Leia a parabola:


E Jesus disse ainda:
— Um homem tinha dois filhos. Certo dia o mais moço disse ao pai: “Pai, quero que o senhor me dê agora a minha parte da herança.”
— E o pai repartiu os bens entre os dois. Poucos dias depois, o filho mais moço ajuntou tudo o que era seu e partiu para um país que ficava muito longe. Ali viveu uma vida cheia de pecado e desperdiçou tudo o que tinha.
— O rapaz já havia gastado tudo, quando houve uma grande fome naquele país, e ele começou a passar necessidade. Então procurou um dos moradores daquela terra e pediu ajuda. Este o mandou para a sua fazenda a fim de tratar dos porcos. Ali, com fome, ele tinha vontade de comer o que os porcos comiam, mas ninguém lhe dava nada. 
Caindo em si, ele pensou: “Quantos trabalhadores do meu pai têm comida de sobra, e eu estou aqui morrendo de fome! Vou voltar para a casa do meu pai e dizer: ‘Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho. Me aceite como um dos seus trabalhadores.’ ” Então saiu dali e voltou para a casa do pai.

— Quando o rapaz ainda estava longe de casa, o pai o avistou. E, com muita pena do filho, correu, e o abraçou, e beijou. E o filho disse: “Pai, pequei contra Deus e contra o senhor e não mereço mais ser chamado de seu filho!”
— Mas o pai ordenou aos empregados: “Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos seus pés. Também tragam e matem o bezerro gordo. Vamos começar a festejar porque este meu filho estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.”
— E começaram a festa.
— Enquanto isso, o filho mais velho estava no campo. Quando ele voltou e chegou perto da casa, ouviu a música e o barulho da dança. Então chamou um empregado e perguntou: “O que é que está acontecendo?”
— O empregado respondeu: “O seu irmão voltou para casa vivo e com saúde. Por isso o seu pai mandou matar o bezerro gordo.”
— O filho mais velho ficou zangado e não quis entrar. Então o pai veio para fora e insistiu com ele para que entrasse. Mas ele respondeu: “Faz tantos anos que trabalho como um escravo para o senhor e nunca desobedeci a uma ordem sua. Mesmo assim o senhor nunca me deu nem ao menos um cabrito para eu fazer uma festa com os meus amigos. Porém esse seu filho desperdiçou tudo o que era do senhor, gastando dinheiro com prostitutas. E agora ele volta, e o senhor manda matar o bezerro gordo!”

— Então o pai respondeu: “Meu filho, você está sempre comigo, e tudo o que é meu é seu. Mas era preciso fazer esta festa para mostrar a nossa alegria. Pois este seu irmão estava morto e viveu de novo; estava perdido e foi achado.
Lucas 15:18-32


O filho mais novo sonha com prazeres, com aventuras... tem um comportamento anárquico, revoltoso, hedonista (busca seu prazer como uma razão de viver), querendo devorar sua parte nos recursos que o pai lhe deu, na velocidade e gula de vida que lhe pareciam certos. Querendo colocar os seus próprios temperos.

E não é esse o comportamento normal do ser humano? Anárquico, o tempo todo buscando prazer em cima de prazer, e querendo engolir a vida e os recursos que por amor e Graça nosso Pai nos dá todo dia...é a natureza originalmente caída e pecaminosa do homem o que o filho mais novo representa. A vida sem o equilíbrio, sem amor, egoísta, preso no próprio corpo e mente corruptos... Achando que sabemos tudo o que convém e tudo que faz parte de nós...
Então como primeira lição que aprendi desse texto:

O filho pródigo revoltado e indomável representa bem os homens normais longe de Deus

Um evento muda a história. O filho mais novo é tirado de cena. 
Ele se decepciona com suas certezas e com muita coisa em seu coração, coisas, desejos e iras que achava justas....Sua glutonaria de vida e prazeres lhe deu indigestão.

E aí eu aprendo mais uma coisa - nesse momento o filho mais novo começa a lapidação do seu ser, a individuação de si mesmo, descobrindo o quão voláteis são os prazeres, o quão frágeis eram os valores de sua revolução e insistência anarquista.
Começa a tirar de si o supérfluo, o que não é ele mesmo mas está impregnado nele.
Começa a descobrir em si mesmo o essencial, sua essência, começa a se despir de todo lixo de si mesmo e tornar-se um indivíduo, Alguém que pensa, que se conhece e se enxerga.

E ao se enxergar, entende seu erro, sua rebelião, e volta pra casa do pai sabendo de si mesmo que não é merecedor de ser restaurado. Pede ao pai que o permita ser como mais um trabalhador.qualquer. Trabalhar e suar para merecer desfazer a desonra. 

Muitos de nós são assim. Na ânsia de engolir a vida do seu jeito, nos decepcionamos e sentimos que pisamos feio na bola com Deus, Muita gente se propõe a qualquer loucura pra se redimir pra com Deus. Se enchem de proibições, nãos e regras...

Porém o pai o beija,não o trata conforme sua rebeldia mas o ama, o traz para dentro e finaliza o processo de individuação.
Põe um anel no dedo - marca da filiação, de pertencer ao sangue daquele pai.
Lhe pôs as sandálias, marca de quem não era escravo mas sim livre.
Lhe dá vestes novas. Celebra esse gesto da Graça com uma festa e sacrifício com sangue, animal imolado.

E da mesma maneira Ele nos recebe de braços abertos, gente que tinha morrido em seus devaneios e desequilibrios....nos traz pra perto de si e...

  • nos põe uma aliança baseada Nele e nos repatria como filhos diante do Universo;
  • Nos calça os pés pois não somos escravos mais das coisas que nos prendiam e das ilusões de prazeres e controles que achávamos ter....livres em Cristo!
  • Nos dá vestes novas, de alegria e não de pranto, de louvor em Sua presença
  • E tudo isso é selado por um sacrificio Eterno, sacrificio do sangue do Cordeiro imolado desde sempre na Cruz do Calvário.

Sim, agora o filho mais novo, pródigo, retorna como filho que se conhece, se fez gente consciente, que removeu suas ilusões e vive como um filho deve viver. Na sombra do amor de seu pai e gozando de tudo quanto lhe é dado nele .Idem para nós e nosso Pai...

E há quem não tenha tido coragem de se permitir vida, espírito, e apenas se resignou a  ficar morno no seu canto...esse é o filho mais velho, que se indignou e pranteou para seu pai que nunca ganhou nenhum novilho pra se banquetear com seus amigos....no fundo, no fundo, também queria farrear, gozar da vida e dos recursos mas não se manifestou em favor de uma ortodoxia que achava em sua cabeça...

Não se individuou nem lutou para remover de si o que não era legítimo. Apenas se resignou, numa mornidão sem reações. Apático mas um vulcão por dentro. Contido, espremido de medo de sair da linha em prol de um relacionamento de verdade com seu pai, mesmo correndo o risco de perder a compostura. Tanto que reage de maneira hostil ao seu irmão sendo bem recepcionado de maneira injusta mas amorosa e graciosa.

E quantos desses não existem por aí? Gente que não retrocede nem avança, que não se permite ter vida efervescendo em suas veias, não sai pra vida real nem encara os problemas e dilemas de si mesmo...está perto do Pai mas não se relaciona com Ele, se mantém no presépio ao invés de encarar que a vida e ele mesmo não são ideais e precisam se achar e se despir na presença de Deus. 

Acabam ficando invejosos, recalcados, e sequer aprendem com os erros dos filhos pródigos. Não aproveitam o Pai, não gozam da existência que Ele lhes dá:  "Tudo quanto é meu é seu filho" - poderia ele dizer na parábola - "o que faltou foi voce decidir o que quer mesmo".

Por isso o que eu aprendo também desse texto é que tem gente recalcada no mundo, que nem vive nem deixa viver, nem se despe nem aceita a nudez da alma do próximo diante de Deus. Gente que tá perto do Pai mas prefere calar ao invés de tratar. Fantasiar ao invés de encarar a realidade e chamar pelo nome aquilo que tem de feio em si.




Que aprendamos dessa parábola de Jesus a não cairmos em nenhum dos extremos, mas que aprendamos a nos permitir viver, ferver a vida em nós, despir-nos e mostrarmos nossa feiúra e nossas carências ao Pai, deixarmos ilusões de prazer e futilidades da alma pelo caminho sem precisar ir comer com porcos...e a gozar o que Ele nos dá e receber Dele o anel, a sandália e as vestes, e a intimidade do abraço ao redor do pescoço.

Porque o evangelho é convite pra vida, pra realidade como ela é fora de nós e dentro de nós, é convite à nudez da alma como nunca se viu desde Adão. É a vida leve e livre de tudo aquilo que nos prende de maneira invisível - o laço do prazer como meta de vida, da vaidade, do egoismo, dos exageros, das maldades...é chamar cada desejo e impulso pelo nome, levar diante de Deus e com Jesus reconhecer de onde vem, pra onde vai, ao invés de esconder pra si e viver de aparencias escondendo vulcões não tratados no coração.

Pense no vaso nas mãos do oleiro: se as cracas, pedras e impurezas estiverem do lado de fora, é mais fácil de limpar. Se estiverem encrustadas no interior, o oleiro precisará quebrar o vaso para purificá-lo. Aprenda pelo amor e pela gratidão, é mais fácil.

Permita-se viver! permita-se olhar pra si mesmo! permita-se iluminar seu interior com a luz de Cristo e ver o que tá sobrando, corroendo, que não faz parte legitima do ser belo e cheio de amor que reflete Deus - como Adão refletia no inicio!

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