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domingo, 5 de dezembro de 2021

Uma triste realidade - Nós? Quem?


Recentemente revi um filme maravilhoso dos anos 60, chamado "A máquina do Tempo", baseado no livro de mesmo nome, do lendário H.G. Wells. Busquem onde assistir, vale muito a pena (e não percam tempo com a versão de 2002!!). Conta a estória de um cientista que, na virada de 1899 para 1900, tem sucesso em criar uma máquina do tempo e viaja para o futuro para ver as maravilhas que a humanidade iria ter como civilização, em 10, 100, 1000 e 100.000 anos. E o filme traz uma reflexão profunda (aliás, várias boas), que me levou a juntar as peças para falarmos de realidade.

Vamos partir de uma definição de realidade - a leitura percebida pelo ser humano do seu entorno imediato de tempo e espaço, bem como a projeção das coisas não imediatas, que são muito grandes ou muito pequenas em relação à escala que podemos perceber, seja em tempo (como passado longínquo ou futuro distante, ou imagina um milésimo de segundo), espaço (o tamanho da Lua, ou o peso em toneladas, de uma baleia, o tamanho de um vírus). Ou seja, coisas que podemos perceber e entender a partir do nosso cotidiano, e coisas que são muito grandes ou pequenas e só podemos imaginar.

A realidade sem Deus é uma história triste. Ela começa como um acaso (o big bang) e termina com o desaparecimento do questionador. Um acidente demorado que gerou seres capazes de questioná-lo apenas para descobrir que vão desaparecer por completo. E que na escala do Universo, são insignificantes e tratados por ele com indiferença. E que sequer temos capacidade de procurar outros como nós no universo, por causa dessa escala. Não sabemos se estamos sozinhos mas até o momento ninguém nos responde de volta.

Somos pessoas que na maior parte das vezes sequer são irrelevantes na sociedade enquanto estão vivas, quem dirá depois de algumas gerações. Normalmente serão relevantes para os seus familiares ou talvez para sua cidade por 4 ou 5 gerações, se muito chegando a 200 anos de "legado". Duvida? escolha uma rua da sua cidade, ou a sua rua mesmo, e me diga de imediato quem foi essa pessoa ou essa data que dá nome a rua? Tente fazer sua árvore genealógica 2 ou 3 gerações antes dos seus avós. Quem foram?

Se forem excepcionais à frente de novas idéias ou movimentos, talvez durem alguns séculos. E em alguns raros casos, alguns milênios, se considerarmos Jesus apenas como figura histórica, assim como Platão, Sócrates, Ghengis Kan, Átila o Huno, Alexandre o Grande, etc.

Mas estes grandes nomes da História, na escala do próprio tempo do planeta, são o que? 2000 ou 3000 anos de "relevância" em um planeta que viu  dinossauros, que viu continentes se moverem? qual é a relevância de uma revolução social , um golpe de Estado ou um grande livro inspirador, para a Terra durante sua corrente existência? é um mamífero esquisito que suja mais e briga mais do que os demais. Seja a Revolução Francesa, seja a libertação das nações colonizadas ou os protestos não-agressivos de Ghandi, em milhões de anos nada restará, e será tão poeira quanto a poeira que já rolava no chão há 1 milhão de anos. Toda História e luta, um triste desperdício de energia e tempo.

A torre mais alta de Dubai vai ruir, o Edifício Itália em São Paulo, a ponte estaiada e o Cristo Redentor também. Em 1 milhão de anos - alguns minutos no relógio da Terra, alguns segundos no relógio do Universo  - nenhum deles estará lá. E provavelmente tampouco haveria alguém para olhar para ele e entender o que significou, quem fez, qual a mensagem que passava. Vieram do pó (concreto) e serão de novo pó.

Isso pode ser bem ilustrado na música de abertura do seriado sitcom "The Big Bang Theory" - na versão completa, abaixo:



Ainda temos um vídeo ainda bem legal para ilustrar a nossa pequeneza em relação ao tempo do nosso planeta. A indiferença que o Universo frio tem pela vida em si (houve várias extinções em massa antes dos humanos). Se o planeta Terra tivesse 24h de vida, nós apareceríamos as 23:57 ou seja, nos 3 minutos finais!


Todas as idéias, revoluções, lutas por ideais, construção de impérios e sobrenomes, grandes construções, as descobertas e invenções, para o universo acidental é indiferente. Nossa sociedade de humanos é o único lugar em que isso é relevante. A nossa sociedade portanto é uma forma humana de tentar dar relevância, de perpetuar a nós mesmos física (filhos) e simbolicamente (idéias) e fingir que fugimos do nada que se aproxima a cada dia de nós, e nos alcança no dia da morte, bem como do nada que inevitavelmente vai solapar a Humanidade. Mas imaginar que seremos lembrados ou que deixaremos um legado por hora nos ajuda a abafar a angústia da finitude, a pensar que de alguma forma continuamos.

Se parece com o conto do Dr Seuss, onde num grão de poeira existe uma cidade inteira de minúsculos seres chamados de Quem, a Quem-lândia, cheios de problemas e discussões. Esse conto foi adaptado na animação de 2008 abaixo.


É triste. É como se toda a agitação da Humanidade fosse aquela festa de multicores acontecendo na superfície de uma bolha de sabão.

É uma grande apresentação de teatro para um enorme estádio vazio e escuro, onde somos ao mesmo tempo atores e criamos nossa própria iluminação, figurino e efeitos sonoros. Mas a partir do momento em que pararmos, estaremos imersos no silêncio escuro do estádio.


Bom, então poderíamos dizer que é a Humanidade, a nossa sociedade humana que tem a missão de lutar contra o nada, contra o vazio de sentido do universo auto-gestado, auto-criado, um universo sem Deus, um universo triste. Logo, a coisa valiosa a se defender são as grandes idéias, o espírito humano, a sociedade. Se para o universo somos uma antiga poeira que rola para ser uma futura poeira, então o sentido da realidade, o significado dela, deve estar no espírito humano e suas produções. Afinal, a única chance de ficarmos um pouco menos "mortais" é tentarmos nos eternizar nas páginas da nossa própria História, já que nas páginas do Universo até o Sol tem data de estréia e de término.

Se nossa eternidade e significado não está no universo, está com certeza na Humanidade, na nossa civilização!

Bom, o século XIX produziu muitas idéias, que foram testada com todas as forças no século XX, que desembocou em centenas de milhões de mortos em duas guerras mundiais, somadas a diversas guerras menores e somados aos massacres e extermínios em nome de ideologias, utopias e planos humanos de um futuro ideal. Isso pra ficar somente nos últimos 200 anos de História. Fora as demais tragédias e barbáries das civilizações anteriores que sumiram.

Criamos monumentos, edifícios, muralhas, lagos e ilhas artificiais, lutamos e morremos epicamente, queremos colocar nosso nome em algum lugar que dure mais do que nós mesmos. Uma tentativa desesperada de sermos ouvidos pelo universo e dizermos pra realidade que nos cerca "Estamos aqui!"

Isso aparece também em Gênesis 11, quando a torre de babel foi iniciada pelos humanos:

Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos famoso o nosso nome, para que não sejamos esquecidos pela terra.Gênesis 11:4

Veja se não é a mesma coisa na cena abaixo. O elefante Horton (o único que desconfia que tenha mesmo uma civilização no grão de pólen) está sendo levado pra "panela" pelos que não acreditam em sua idéia. Veja como os Quem tentam mostrar que existem. No filme, eles conseguem. Mas até hoje o universo nem nenhum de seus possíveis habitantes respondeu.


Então estamos "fritos". Não escapamos do nada em direção à imortalidade nem na nossa própria civilização. Tem muita gente no mundo hoje que não sabe quem foi Nero, ou que acha que era um programa de copiar e gravar CD antes de inventarem o streaming e o torrent.

Por todo lado vemos o nada, a tristeza do vazio, do apagar das luzes de cada um e do todo. Essa realidade é triste, porque ela não significa nada para ninguém, apenas para o pequeno grupo de macacos ansiosos que suja, mata e procria demais.

Não conseguimos ser relevantes nem para o Universo nem para a Civilização! você morrerá e será em breve esquecido e um pouco depois, diluído no meio da matéria do Planeta.

Só nos resta aproveitar os poucos anos e esperar o nada chegar...uma realidade triste que tenta fingir que é alegre mas nenhuma alegria é genuína se a gente sabe lá no fundo que vai virar tristeza.

Mas a realidade pode ser diferente

Toda essa tristeza - pelo menos para mim - parece vir da sensação de desperdício, é uma pena e uma perda enorme saber que existimos e depois descobrir que não temos um "para que" e nem um futuro "para onde". Que as experiências que vivemos serão apagadas com o enfraquecimento da química cerebral e morte dos neurônios. Que lutamos e morremos como em Hamlet, em que Shakespeare declara através de seu personagem

"A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum"

Essa sensação de que a morte nos é estranha, uma inimiga que não devia existir, me leva a crer que ela não devia mesmo, e que o ser humano é talhado para algo maior que si mesmo, algo eterno. E encontro em Eclesiastes o Sábio dizendo que:

Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou. (Eclesiastes 3:11).

Num mundo com Deus, ela passa a ter um propósito, uma função a cumprir. O universo passa a ser o berço formado para nos conter. Para através das escalas inimagináveis de grandeza e força da Natureza, nos ajudar a pensar na grandeza e forças de Quem o projetou, montou e nos pôs dentro. Os céus proclamam a glória de Deus e anunciam seu poder, sua majestade.

A maneira como as leis da natureza se inter-relacionam e a matemática por trás nos trazem uma noção de intenção, de projeto intencional por alguém poderoso o suficiente para dizer a um átomo "fique" e a uma radiação "vibre" e ainda deu a eles padrões a serem respeitados.

Assim sendo, o universo existe por nossa causa, pra que conheçamos a Deus e tenhamos um leve conceito sobre sua grandeza. Agora o jogo virou - o Universo sem nós é que passa a ser vazio e triste, sem sentido e fadado ao nada!

A nossa existência, nossos atos, conquistas, dificuldades, passam a ser relevantes não apenas para nossos parentes ou colegas, por algumas gerações, mas agora pelo próprio Deus e pela Eternidade.

O frio do abismo não mais gela nossos pés conforme andamos em direção ao futuro. Não temos mais um ponto final solitário mas uma festa eterna em que somos convidados, aguardados - uma festa que tem o seu "esquenta" no dia em que aceitamos Jesus, quando nos arrependemos o Céu faz festa. E o anfitrião nos aguarda.

Passamos de um pedaço de material sem sentido para alguém que vai receber uma pedrinha branca com um nome único das mãos do Cordeiro - ou seja, uma identidade que é só nossa.

Antes o universo era indiferente a nós, nos esnobando com seus bilhões de anos e galáxias gigantescas, mas com Deus nós passamos a sermos valorizados por Aquele que fez o próprio Universo. Ou seja, não precisamos mais mendigar significado e importância para o Universo, pois Alguém acima dele nos considerou únicos e dignos de um relacionamento pessoal.

O Universo frio e indiferente achava que era a "menina mais bela do baile" e acabou descobrindo que o baile era pra gente, pros filhos de Deus, e que ele estava ali só pra nos receber e entreter.

A realidade não precisa mais ser triste, pois temos um projeto de início, de meio e um fim que não é fim de curso, é fim de finalidade, que é passar a eternidade com Cristo.

Toma essa universo! a minha realidade é Cristo, é alegre porque eu sei onde vai dar e que há sim sentido, alguém ouvindo e cada um nesse grão de pólen chamado Terra tem um plano único e uma atenção especial se buscar a Deus de coração.

Mudamos agora desse vazio existencial para uma noção de missão: nosso propósito aqui não é sobreviver enquanto arranja atividades pra esquecer do abismo. E sim através do Universo, "desconfiar" que Deus exista, buscá-Lo e encontrá-Lo em Cristo.

Graças à Ele, eu não preciso mais ficar perdido tentando achar um jeito de ser imortalizado ainda que temporariamente (por mais contraditório que isso seja), na mente e na cultura da minha civilização, cujos gostos e desgostos muda anualmente. Eu já tenho a eternidade através de Cristo, e em retribuição (já que não há troca possível com Deus) eu vivo e lido com a realidade através dos limites que Ele estabelece.

Eu não preciso perder tempo tentando ser grande, pois para Ele (que me concede a Eternidade), o menor e maior são critérios aferidos no Reino Dele. O maior dos profetas é considerado pequeno no Reino dos Céus. Eu já sou grande por ser chamado Filho Dele, irmão de Cristo. Eu não serei esquecido, mas deixarei um legado que Ele manterá por mim, quando eu não estiver mais aqui: a expansão e aperfeiçoamento da Igreja, não da placa da denominação, não da vertente teológica X ou Y, mas da Igreja macro, que faz a Obra, o bem, a justiça, no micro, sem ser vista e sem ter nada em vista a não ser a gratidão. Não a que faz cruzadas, mas aquela que ajuda quem cruza seu caminho, como o samaritano na estrada.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

A igreja e o bolo de banana

 





Imagine que eu acorde as 6h da manha, pegue R$ 100 em ingredientes e comece a preparar um bolo - de banana por exemplo, que é meu preferido. Eu quero fazer um bolo delicioso, e gasto todo o dinheiro em ingredientes de primeira qualidade. Eu quero vender esse bolo, e fazer um dinheirinho extra. Vamos imaginar que eu queira ter R$ 20 de lucro, e a receita me rendeu 12 pedaços. Logo, eu preciso vender cada um por 100+20= 120, dividido por 12 = R$ 10 cada pecado.

Uma vez que nao sou bom com bolos, gasto 6h preparando esse bolo. Quando é 12:00 eu retiro do forno um verdadeiro tijolo quebradiço. Cinzento. A massa pesada que não cresceu. Um gosto exagerado de ovo e textura de farinha úmida. Uma tragédia que rendeu 1 kg de feiura.

Se eu pegar esse bolo e levar para vender na frente de uma escola, empresa ou numa feira, sem me conhecer você compraria? Você olha um pedaço de tristeza e perigo, cinza, pálido, que desce quicando pela garganta e leva uma tarde toda pra digerir, por R$ 10. 

Provavelmente você dirá "nem morto! primeiro, está muito caro! e segundo, parece horrível!"

Mas eu posso reclamar com você: "Ei, mas eu gastei 6 horas nisso! e mais de R$ 100 em ingredientes saborosos, sustentáveis, naturais e orgânicos! O preço é justo sim, eu me esforcei muito pra fazer isso!"

Ao que você provavelmente vai dizer "eu sinto muito! não dá pra comer isso, eu vou gastar meu dinheiro suado com algo ruim de comer? eu quero ter prazer ao comer, não uma indigestão! tanto faz quanto tempo levou, quanto você gastou".

Aí você olha para o lado e vê um bolo bonito, fofinho, cheirando de longe um cheirinho de casa da vó, por R$ 5, feito pela Dona Cleonice, boleira de mais de 20 anos de experiência. Nem preciso perguntar qual vai te fazer sorrir (no rosto e no bolso!).

A todo momento avaliamos o custo-benefício das coisas, antes de trocar nosso tempo ou dinheiro naquilo. Essa é a função-utilidade esperada ao obtê-lo. É o conjunto de coisas que colocamos internamente na nossa balança, para decidir fazer ou não fazer algo.

Você compra um bolo pra ter uma experiência saborosa, porque naquele momento você considerou que era mais satisfatório saborear um bolo do que manter o dinheiro no bolso. Você considerou o preço, o provável prazer do paladar, e achou que valia a pena. Ou no caso do meu bolo-tijolo, que não valia. Que era melhor manter R$ 10 consigo do que o paladar do bolo cinzento (e os remédios pra digestão depois). O meu enorme esforço não entrou na sua conta, nem o quanto eu gastei de materiais. Você analisou preço e satisfação (paladar), ou seja, o que você consegue levar consigo na troca.

Talvez em outro momento, a função-utilidade do bolo pra você passe a incluir as calorias e o esforço de emagrecer. Talvez mesmo sendo barato e delicioso, esses novos fatores diminuam a função-utilidade do bolo pra você.

O que podemos ver aqui é que a função-utilidade, o modo da sociedade e de cada um de nós valorizar as coisas e acoes é mediante um conjunto limitado de interesses e valores, que mudam com o tempo, com a situação, e que ignoram outros fatores anteriores (por exemplo, o meu esforço).

Por isso quando discutimos sobre "meritocracia", cometemos o equívoco de misturar esforço com mérito. O mercado (nós) não paga pelo esforço, não considera esfôrço um mérito. Ele paga pela função-utilidade, pelo valor subjetivo que é dado por quem compra. Um programador tem muito menos esforço físico que um pedreiro, mas muitas vezes o que o programador gera com seu tempo (software) é muito mais caro do que o muro ou a casa erguida pelo pedreiro. Ambas as profissões são importantes, mas o esforço de cada um é pago de maneira diferente em R$/hora.

Basicamente introduzimos aqui o conceito de economia. Gente organizando os seus recursos (habilidades, tempo, esforço, etc) para trocar por recursos de outras pessoas/empresas. O dinheiro serve apenas como intermediário. Os empregos funcionam como maneiras de trocar o que temos/sabemos, por dinheiro, e os mercados e lojas trocam o dinheiro por coisas.

E isso é muito humano. Mas ser muito humano pode significar perigo, já que nossa natureza é pecaminosa, é falha, tende ao erro.

Nós também temos rotinas dentro das nossas igrejas. Somos confiados por Deus com recursos, dons, talentos, e também existem funções-utilidade dentro de cada um dos membros.

Algumas perguntas importantes que podemos fazer são:

  • A função-utilidade dentro da igreja, está correta, está bíblica?
  • Nós organizamos os recursos da igreja - pessoas, dons, dinheiro, tempo - em ministérios, atividades, programações. Mas qual é a função-utilidade dessas atividades?
  • A função-utilidade dessas atividades é a mesma no nosso discurso e nos resultados práticos? ou em outras palavras - o que a gente diz que é o motivo das programações e ministérios, é realmente o que estamos vendo acontecer, obtendo de verdade?
Pode ser - e infelizmente acaba sendo - que a igreja crie um ministério, planeje uma atividade, com várias finalidades em mente. 
Ela espera obter mais membros, espera obter momentos de lazer, de festa, espera formar líderes...muitas funções-utilidade podem ser associadas oficialmente. E outras veladamente - obter mais exposição (aparecer mais), aumentar a arrecadação, se aproximar de alguém ou manter alguém afastado, criar um grupo ou protege-lo.

E tudo isso sem se perguntar se para o senhor da igreja, se para Jesus a função-utilidade é a mesma. Eu fico pensando em Jesus olhando para certas programações, ministérios e iniciativas propostas e dizendo:
E pra quê eu vou querer isso? em quê essa ideia de vocês cumpre ou satisfaz as minhas expectativas, as minhas ambições? em que isso reflete o que eu prefiro e aquilo a que eu dou valor? 

Eu deixei à disposição de vocês talentos, pessoas, dons, saúde, tempo - como vocês estão usando isso conforme a minha função-utilidade, conforme as minhas expectativas, os meus valores, levando em conta a minha satisfação e o meu interesse?  

Ou ainda:
Quando exatamente essa iniciativa de vocês vai trazer as coisas que eram planejadas? ou melhor, os frutos que estão aparecendo são os que eu espero?
Tendo gente necessitada na igreja e nos arredores da igreja, casais em crise por dívidas, gente doente sem plano de saúde, planejamos a ampliação do templo ou o embelezamento "da casa de Deus" com mármore, com vitrais, com tecnologia de ponta no som e imagem.

Mesmo com casamentos e famílias desmantelados gradativamente, aumentamos os esforços nos cultos de celebração, de festa, encontro de casais, encontros da família - sem parar pra analisar que vai cada vez menos famílias, com cada vez menos gente, e sempre são os mesmos clãs que se encontram fingindo que está tudo bem.

Quais são ou quais seriam as funções-utilidades, as coisas que Jesus poe na balança para decidir se é bom ou não vale a pena? Lembre-se que "todas as coisas são lícitas mas nem todas convém".

Primeiro, qual seria a função-utilidade da igreja pra Jesus? O que Ele espera ao relacionar-se com ela, ao criá-la e mante-la como sua noiva?
Isso por si só já rendeu livros inteiros, então vou tentar focar mais no raciocínio e menos nas dezenas de respostas possíveis pela Bíblia.

Me atrevo a pontuar algumas, que parecem condizer com as Escrituras:
  • uma comunidade onde gente doente é usada por Deus para cuidar de outros doentes
  • um grupo que reflete ao mundo uma amostra parcial do Reino de Deus por vir
  • um lugar para pertencer e aprender juntos a ser mais parecido com Cristo e entender Sua vontade e suas prioridades
  • o ajuntamento dos que pecadores que celebram sua salvação e filiação em Cristo
  • A noiva que prepara a si mesma para o noivo (Cristo) e anuncia a Sua vinda;
Das coisas acima, eu poderia sugerir (sem tentar ser exaustivo), que nós devíamos nos perguntar se os ministérios, atividades, formatos, liturgias e programações:

  • contribuem para que os problemas e urgências dos membros sejam conhecidas de maneira cuidadosa e em amor (sem fofoca e nem desprezo), buscando nos próprios dons e bençãos da comunidade uma solução ou um consolo?
  • fazem os irmãos e irmas se enxergarem melhor e aumentar seus vínculos, sua intimidade?
  • integram mais pessoas e prestam atenção aos deslocados e avulsos, incentivando o pertencimento, respeitando as limitações e dificuldades de cada família?
  • Falam de pecado, correção de comportamento?
  • ajudam a entender santidade, mordomia e redenção na sua vida diária?
  • promovem um crescimento contínuo da leitura e exposição da Palavra?
  • mantém a igreja visível no seu entorno, no bairro, na região, não pela atividade mas pelos valores demonstrados, pelo testemunho, abençoando a cidade?
  • ajuda a sociedade ao redor a enxergar mais Jesus e entender melhor a Bíblia?
  • ensinam a louvar e celebrar a Deus além da música?
  • Mostram e cobram a intimidade individual no quarto secreto, você com Deus, diária?
  • separam um tempo para reunião de oração semanal?
Em outras palavras, ajuda os membros a serem uma família unida e atenta, mas individualmente engajados em mudar pra melhor em Cristo?

Assim como meu bolo foi um desperdício de dinheiro, tempo, energia, e sequer era consumível, e causaria mais doença do que saúde, pode ser que coisas "de igreja" se tornem indigestas, adoecedoras, desperdícios mal administrados. Se as programações, eventos e ministérios não tem sido orientados pela função-utilidade de Cristo e sim dos líderes, é provável que sintomas apareçam:
  • Ministérios que definham enquanto outros incham e depois racham internamente por desentendimentos
  • Satélites-humanos: visitantes e membros não-frequentes que passam meses sem desenvolver conexões até que um dia param de vir
  • Famílias e membros que não conseguem acompanhar os ministérios e programações por questões econômicas, logísticas ou de escolaridade, e se sentem intimidados ou abandonados dentro da igreja.
  • As programações e ministérios ficam girando em torno das mesmas pessoas, famílias e casais, que por sua vez formam uma liderança que se auto-organiza conforme é conveniente
  • O ministério continua funcionando com a mesma agenda, embora seus membros estejam vivendo crises conjugais e dramas familiares graves
  • O louvor musical é o ápice do culto e a maior parte dele.
  • Grandes gastos com a estética do templo e com melhorias tecnológicas para "ter o melhor na casa de Deus" e não para fins práticos - uma ostentação "santa"
  • Os temas pregados são mais de auto-ajuda do que confronto e mudança de vida.
  • A escola dominical sumiu ou se arrasta com os mesmos temas, e uma classe de idosos e outra de crianças. Os professores não mudam porque não há membros mais "bem nutridos" para ensinar.
A igreja então não é mais uma comunidade de onde emergem ministérios conforme os dons - algo orgânico, algo que vai surgindo enquanto a comunhão aumenta e o discipulado se fortalece. 
Não, aqui a igreja se tornou uma máquina de eventos, de departamentos, uma serva da liturgia, que tem que ser continuamente alimentada e nunca pára para olhar pra trás. 
Ela não olha mais nem para os lados (entendendo os limites e problemas da membresia) nem para o alto (alinhando-se com as prioridades da cabeça do Corpo, o Cristo). Ela olha pra si mesma e segue obstinada e orgulhosa, de "estar fazendo a Obra custe o que custar" - sem necessariamente entender o que "a Obra" realmente é.

Tudo isso é igual ao bolo ruim e caro da estória, gastando errado com algo que eu não sei fazer.
É ignorar a função-utilidade da igreja, e portanto montar seus ministérios e agenda focados em coisas que Jesus não espera obter, com os recursos que Ele havia dado para gerar vida - e acabar gerando morte.

Os ministérios não surgem do grupo, eles são montados e a liderança fica tentando enfiar as pessoas nas caixinhas ministeriais de sempre.

A igreja não pára para olhar pra trás, não "tira o pé do acelerador", não reavalia os resultados de cada iniciativa para decidir se continua ou se redireciona suas forças para cuidar das "engrenagens vivas". Não é uma derrota do Reino ou uma vitória do diabo a gente retroceder e se reorganizar, se o motivo for tratar vidas, ser ferramenta para curar feridas, restaurar relacionamentos e ser bênção na vida do meu próximo.

A própria Palavra nos traz as prioridades - antes da liturgia, antes da oferta, antes do ministério, vem a comunhão. Vem o cuidado com o próximo:

Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta. (Mateus 5:23,24)



Portanto sem essa consciência, não é mais uma igreja, não no sentido bíblico, porque não está mais produzindo santos, testemunho, missões, relacionamento real interno nem externo. Tem uma agenda, um CNPJ, uma hierarquia, se reúne mas não faz Deus sorrir, não transforma, não tem a potencia do Espírito agindo, ou como Paulo cita, "o poder da Sua ressurreição".

Você líder, você ministro, pastor, ancião, pense na pergunta mais importante: 
Qual é a função-utilidade da igreja pra Cristo? será que eu sei ou tenho intimidade suficiente pra saber?
Se sei, o que eu devo manter, mudar, reforçar ou desmontar na minha agenda eclesiástica, para dedicar energia ao que importa a Deus, e produzir o que Ele espera?

 Depois não adianta tentar argumentar com Jesus:

Mas senhor, em teu nome expulsamos demônios, profetizamos em Teu nome, fizemos milagres,...enchemos o templo, organizamos workshops, conferências missionárias, ministérios, criamos uma logomarca pro grupo e até canais nas redes sociais! Nos esforçamos muito!

Todo esforço e agitação que foi produzido não vai fazer parte da balança, tanto quanto 6h de trabalho não tornam bom um bolo ruim.

Sem buscar o que Ele valoriza, sem aplicar o que Ele te deu naquilo que produz o que Ele prefere, vai restar pra nós ouvir:

Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci, nunca tive intimidade com vocês. Afastem-se de mim vocês que praticam o mal! (Mt 7:22-23)



sexta-feira, 4 de junho de 2021

Gott ist nicht meine Priorität


 Wenn ich zum Verkäufe gehe (z.B. in REWE oder ähnliche Laden) , normalerweise trage ich ein Liste mit.

Lebensmittel, Tabletten in Apotheke, 5 oder 6 Punkte in Blatt geschrieben. Kartoffeln- oder Zwiebelnbrot, ein Roastbeef zu grillen...Zum erste die Kartoffeln, dann Leberwurst, dann Spül, dann Apfelschorle, und endlich zum Kasse.

Ohne ein Liste, das passt mir nicht. Ich könnte mehr oder wieder Produkten kaufen, die ich schon in meine Haus habe. Oder weitere Produkten nicht wirklich nötig. Weniger Geld sparen.

Aber lass uns wieder meine Liste lesen. Kartoffeln - schon da! Leberwurst...schon drinnen in Korb. Nach 5 oder 6 Produkten des Liste, habe ich keine Grund wieder in Obst/Gemüse Bereich zurückgehen. Es ist schon fertig in Korb. Macht Sinn, oder? Wenn ich Kartoffel-Thema erledigt, dann meine ganze Achtung in Leberwurst ist. Keine Sorge auf Kartoffel.

Lass mich ein ähnlich Situation mit Liste dir erklären.

Wir sagen dass "Gott ist meine Priorität. Alles für mein Herrn. Jesus ist das erste Punkt in die Liste meines Lebens". Das klingt gut, oder? Er ist unser Herr und gehört unser Leben. Deswegen sagen wir immer dass Gott ist Top in unser Leben Liste. Ich verstehe dich, aber tatsächlich ist es falsch.

In meine Leben, Gott ist nicht in erste Stellung.  Zum erste kommt meine Familie (Frau, Kinder, Eltern, usw). Dann kommt in zweite Stellung mein Job/Beruf. In Wirklichkeit Gott ist gar nicht in meine Liste. Er ist weg.

Wenn man ein Liste tragen, um Punkte zu lösen, dann man muss jede Schritt sich kümmern. Nachdem die erste Punkte gelöst hast worden, löst man die nächste Punkt und dann und dann. Niemand kommt zurück um die fertig Punkte zu lösen. 

Gott muss nicht der erste Punkt sein. In unseren generell Gedacht, Gott ist Nr 1 in Leben Liste. Aber man kann nicht "Gott Sache" lösen und dann andere Sache machen. Das ist ein groß Fehler, ein paar Sache als Heilig sondern alles verstanden. 

Gottesdienst. Fußball. Zu beten. Zu kochen mit meine Kinder. Welche von diesen sind gewöhnlich und banal, welche sind Heilig und "Gottes Sache"? Wenn in deine Kopf zwei Gruppe stattfinden, dann Gott ist deine erste Punkt in Liste. Du machst Gottes Sache und alle andere Betreff ist nicht mit Ihm zu tun. Du machst wie du willst.

Paulus sagt zu Korinther:  "Ihr esset nun oder trinket oder was ihr tut, so tut es alles zu Gottes Ehre" und zu Römer: "Denn von ihm kommt alles, / durch ihn steht alles / und zu ihm geht alles. / Ihm gebührt die Ehre für immer und ewig! Amen".

Das meinst Gott nicht unser erste Punkt in Liste sein müssen sondern die selbst Liste! Alle Aufgaben, alle Aktion und alle Betreff müssen durch ihn gehen. Es gibt kein Thema, das durch Gott nicht geht. Fußball spielen, Gottesdienst feiern, Intimität in Ehe, Löb mit Musik, täglich Beruf Aufgaben, man kann alles mit Gott als weiß Blatt listen und auf Ihm schreiben - so alle Bereich unser Lebens kann Heilig sein wenn Gott unser weiß Blatt ist. Heiligartig. Jesu-artig.



So denke du deine Liste nach. Verändern deiner Priorität. Mach Jesu-artig alles. Mach du Gott als deine Blatt so alle Betreff, alle Lebensbereich in Seiner Art sein kann. Und nur wie das, können wir das erleben, wie Paulus zu Römer ratet: 

Und richtet euch nicht nach den Maßstäben dieser Welt, sondern lasst die Art und Weise, wie ihr denkt, von Gott erneuern und euch dadurch umgestalten, sodass ihr prüfen könnt, ob etwas Gottes Wille ist - ob es gut ist, ob es Gott gefallen würde und ob es zum Ziel führt.

Gott segne dir.


terça-feira, 6 de abril de 2021

O Sal e o Antrax

O sal e o Antrax


Voces lembram em 2001, uma semana depois do atentado às Torres Gêmeas, quando houve uma onda de ataques por cartas contaminadas por anthrax? era um pozinho branco e fino, que ao ser inalado, causa uma grave infecção pulmonar (muitas vezes fatal) por uma bactéria forte. Essas cartas foram enviadas ao Congresso americano por terroristas.

Somos feitos de pó, e ao pó tornaremos. Somos feitos de pó, e Jesus pede aos cristãos, que emprestam Seu nome, para serem mais do que pó: Sal da Terra e luz do mundo. Sal é também fino e branco. Ele conserva os alimentos para que não pereçam tao rapidamente (vide a carne seca levada Brasil afora por tropeiros e sertanejos). Sal dá gosto.

Porém de maneira acentuada na pandemia de covid, tem muito crente que também é pó branco e fino, mas não é sal. Tem sido mais um antrax, expondo pessoas à doença ao invés de como o sal, conservar e proteger. Mas isso já era visível há anos.

Já era uma reclamação minha em 2015, quando fiz esse outro post: 

http://dropsdefe.blogspot.com/2015/03/a-igreja-os-doentes-e-o-amor-ao-proximo.html 



Muito antes da máscara e álcool gel

Muito antes da Covid, já havia muitas pessoas que iam para os cultos absolutamente "podres" de doente. Gente com dor de garganta, viroses fortíssimas, conjuntivite, todas doenças contagiosas. Cumprimentavam, beijavam, usavam os bebedouros, mexiam com as crianças e bebês, etc.

Abraçam, falam, compartilham partículas, encostam aqui e ali. Repartem comida ou bebida. Dão carona. Depois no meio da conversa dizem "nossa, essa semana eu passei um sufoco doente" ou pior ainda, "só por Deus que estou aqui hoje, porque estou caindo de doente".

Não muito depois, outras pessoas passavam mal e faltavam nos cultos por estarem com a mesma doença (ou iam assim mesmo, o que é pior). Pessoas cansadas pois passaram dias no pronto-socorro ou postinho de saúde, com o filho sem dormir ardendo em febre, sem respirar com a garganta fechada. Gente esgotada, sem dinheiro pra antibióticos, sem infraestrutura para dar a si mesmo (ou familiares) o devido cuidado. Gente sem carro para ir de madrugada pro PA. Sem convênio. Gente que faltou no trabalho, perdeu viagem, perdeu reuniões, perdeu prova na escola ou na faculdade. 
E quem passou a doença pra frente, não raro era gente que podia trabalhar de casa, gente que podia entrar mais tarde ou tirar uns dias, com todo conforto e com bom convênio.

Talvez você pense que isso não é um problema, já que sua comunidade de fé pode ser mais abastada, com membros mais endinheirados. Mas e as famílias que são afetadas indiretamente, por tabela? a faxineira, o porteiro, o Uber, a cabeleireira? eles têm família, mas não tem a mesma infraestrutura.

Muitas das pessoas que insistem em "ir à igreja" mesmo que chova canivete, mesmo que estejam moribundas, justificam que "é pra Deus". Que "faz X anos que eu nunca faltei nenhum domingo sequer". Justificam que é a maneira deles de demonstrar devoção, dedicação à Deus. É compreensível, mas não deixa de ser perigoso e enganoso. Será que essas pessoas que vão aos cultos a todo custo, 
  • ...continuam sendo uma réplica de Jesus na maneira de tratar os outros e evitar o mal durante a semana (ou mesmo domingo depois do culto)?
  • ...meditando diariamente na Bíblia e buscando mudar a si mesmos ?
  • ...estão atentas às necessidades dos irmãos e irmas da igreja, e atuando nisso?
  • ...ao saberem que alguém está com a mesma doença, telefonam, oferecem ajuda logística e financeira para que ela passe bem pela doença?
Do contrário, toda essa "devoção" está sendo um exercício individual e vazio de piedade (dedicação religiosa), sem continuidade na semana e desconectado dos demais. Esse exercício de piedade descontínua é o que Deus condena através do profeta Amós "estou cansado das suas cerimônias religiosas, suas celebrações me enojam, quero rios de justiça e misericórdia, não sacrifícios".

Todo esse discurso do "vou ao culto, custe o que custar" deixa de ser bom para o Reino de Deus, quando o custo é o bem-estar do outro, ou quando a minha liberdade e satisfação vem primeiro lugar.

Paulo diz aos filipenses, no capítulo 2 : 
não façam nada por interesse pessoal. Não busquem apenas o interesse de vocês mesmos, mas também dos outros. Pois o próprio Jesus, sendo Deus, tendo todo o poder [de fazer o que quisesse], escolheu esvaziar-se e assumir a postura de servo [buscando o interesse de salvar os outros]. Tenham em vocês uma só mente, um mesmo amor, vivendo em harmonia.
Ainda no Novo testamento, vemos em 1 Coríntios 10:23:

Alguns dizem "podemos fazer de tudo" , é verdade, mas nem tudo é bom. Outros dizem "fazemos o que queremos". Sim, mas nem tudo é útil. Ninguém deve buscar os seus próprios interesses e sim o do outro
Como podemos ler o trecho acima e achar que estamos cumprindo-o, se vamos ao culto doentes e expomos ao risco os nossos irmãos e irmãs? o que é mais importante, a sua sensação de "fui ao culto, sou um bom crente" ou o interesse em proteger os demais de ficarem doentes? de que adianta a sua "dedicação" se você vai submeter seus irmãos a no mínimo, gastarem com antibióticos, perderem noites de sono, passarem dias maus?

Depois não adianta dizer "gente, vamos orar por fulano". 

Talvez esteja na hora dos evangélicos começarem a esvaziar a si mesmos, como Jesus, e pensar no interesse do próximo, antes de pensar na sua auto-satisfação.

Outra evidência podemos ver na epístola de Tiago, capítulo 2, quando ele diz
Do que adianta a fé sem obras? pode haver no meio de vocês irmãos que precisam de roupa e não tem o que comer. Se vocês não lhes dão o que precisam para viver, não adianta dizer "cuidem-se, comam bem, se agasalhem!", não adianta dizer "Deus os abençoe". A fé sem obras é morta, e não poderá te salvar se estiver incompleta.

Ou seja, sua fé e sua devoção não podem ser vividos alienados do resto das pessoas. 

Não existe relacionamento com Deus apenas na vertical - você e Ele, sem levar em conta a horizontal - você e o próximo. Esse foi o erro do povo de Deus no Antigo Testamento: focaram em fazer os ritos, as liturgias no templo, mas fora dele exploravam, adulteravam, mentiam, brigavam, corrompiam. Não havia uma continuidade entre templo e vida fora dele.

Tudo isso e nem tinha chegado Dezembro de 2019.

Depois de 5 anos, pouco mudou

Então veio a Covid-19. Que agora é 21 (já que o 19 é por causa do ano 2019), com mais variantes, algumas mais contagiosas, outras mais agressivas.

Uma doença silenciosa, que demora vários dias a aparecer, dando tempo de contaminarmos sem saber, muitas outras pessoas, enquanto achamos que estamos super bem. E para piorar, temos os assintomáticos, que tem o vírus mas não desenvolvem a doença nunca. Apenas a espalham sem saber.

E quando atinge alguém, até o momento não sabemos como o organismo vai reagir. Se vai ser apenas uma "gripe forte" ou se vai deixar sequelas graves. E há várias sequelas graves, desde fibrose no pulmão (falta de ar), diminuição de disposição física, diminuição da concentração e capacidade de raciocínio, arritmia cardíaca, e até insuficiência renal. É uma loteria de possibilidades ruins.

Ou seja, de um lado não sabemos se estamos contaminados espalhando vírus, e do outro não sabemos como cada pessoa vai lidar fisicamente e financeiramente com a doença.

Com tanta incerteza, porque precisamos expor nosso semelhante ao risco, se até quem tem boas condições financeiras está sendo duramente (e fatalmente) afetado?

Porque precisamos ir à praia, ir no restaurante, no clube, fazer churrasco com amigos ou parentes, dar um rolêzinho, gente postando que "sabadou", "dominguinho né" ? - não raro, sem máscara, sem distanciamento, sem nada que ajude a conter o vírus.

Não estamos falando de quem precisa se expor - quem precisa usar trem, metrô, ônibus. Gente que não tem opção de trabalhar de casa, em home office. Gente que está na farmácia, padaria e supermercado para manter a vida urbana possível. Nao vale usar esse falso silogismo, de que "ônibus pode, mas praia não". A não ser que você ceda o seu veículo para algum trabalhador não precisar mais pegar ônibus, enquanto você faz home office, que tal? . Antes de usar esse argumento do "ônibus pode", pense de outro ângulo: essas pessoas infelizmente não tem outra opção a não ser se expor gravemente, sendo que a maioria sequer tem convenio. Mas fazem isso pra poder comprar comida, pagar conta de luz e ser seu porteiro, seu padeiro, sua manicure.

Estou abertamente criticando quem visivelmente sai quando pode ficar.

Porque todo feriado decretado para manter as pessoas em casa, é revertido em atividades que pioram os números de internação 10-15 dias depois?

A coisa é tao absurda que já existem perfis nas redes sociais para divulgar a falta de empatia e indiferença, com festas e aglomerações, por exemplo, o Brasil Fede Covid (do qual alguns prints abaixo foram tirados). Os vídeos originais você pode ver no fim do post aqui.



Nesta semana de páscoa de 2021, cidades do litoral de SP fecharam as entradas para conter contaminação por turistas. Pelo menos 80 casos positivos foram detectados na fila de 4h formada na estrada. Uma senhora de 58 anos fugiu da blitz e foi perseguida. Barreiras físicas foram derrubadas pela população turista. Os locais pedindo para não entrarem pois não havia mais leito nem kit de intubação.

E de acordo com o IBGE, 65% dessas pessoas são cristas (católicos, evangélicos, protestantes). De cada 20 pessoas dessas na praia, 13 em média são cristas.

Em nome de "saúde mental". Você teria saúde mental se soubesse que indiretamente contribuiu pra alguém morrer de covid, ou não poder mais exercer sua profissão por causa das sequelas?


O culto e a liminar do STF

Também recentemente há uma discussão jurídica no STF sobre permitir ou não cultos presenciais. E muitos líderes estão usando a liminar que permite voltar a ter templos abertos para voltar a ter cultos presenciais, sem que isso seja realmente necessário.

Não somos a turma que faz porque é permitido. Somos aqueles que escolhem não fazer, mesmo que a lei permita, porque sabemos que a nossa lei maior (do Reino) nos exige pensar antes no interesse e proteção do outro. Como o Sal.

Aliás, nós brasileiros sabemos bem que nem tudo que a lei permite é eticamente defensável, como privilégios e auxílios recebidos por deputados que já ganham muito bem.

Nenhum lugar é mais seguro do que em casa. Máscaras, higiene, temperatura, tudo isso deve ser visto como último recurso pra quando precisarmos nos expor. Mesmo porque elas não são garantia absoluta, embora reduzam as chances drasticamente.

Somos abençoados com a tecnologia deste século, que permite assistirmos ao vivo ao culto. A interagir ao vivo por vídeo, ou por voz. A orar e receber oração ao vivo, esteja onde estiver. O Espírito Santo não consome banda nem pacote de dados!

É maravilhoso quando a comunhão pode ser física, mas a presença física nunca foi garantia de comunhão. É gostoso abracar, rir junto, chorar junto, ombro com ombro, mas isso nunca foi empecilho para a igreja historicamente. Paulo retrata sua alegria, sua raiva, sua tristeza e sua preocupação com diversas comunidades através de suas cartas.

Outra prova de que comunhão é uma atitude pessoal e não presencial : basta lembrar que em muitas igrejas, antes do covid, muita gente passava por problemas, precisava de ajuda, e mal sabíamos quem eram elas. Membros entravam, membros abandonavam a igreja, e nem notávamos. Comunhão é interesse. É ligar, mandar mensagem, se importar e demonstrar que se importa.

Não se engane. A experiência cristã não se dá na presença física, embora seja enriquecida por ela. Nós nos gabamos que oramos e pedimos oração pra gente que está longe. Cremos que o Espírito Santo atua mais rápido que qualquer internet. Fazemos "relógios de oracao e intercessão" com várias famílias separadas em suas casas. Oramos por missionários isolados do outro lado do mundo.

Paulo tinha um relacionamento intenso com várias igrejas e pupilos como Timóteo, embora na maior parte do tempo Paulo não os visse pessoalmente.

A própria existência de um Novo testamento na Bíblia é a prova de que mesmo a centenas de Km e levando semanas pra enviar e receber notícias, a igreja é capaz de ser igreja comprometida na alegria presencial ou na distância interessada.
Orando. Recolhendo doações. Recomendando soltar escravos. Expondo somente quem precisa, como Epafrodito, que a igreja enviou para ajudar Paulo (Fp 2) quando estava preso, e acabou quase morrendo de doença.

Não é necessária um documento do STF ou governador ou prefeitura, pra que sejamos prudentes e cuidemos uns dos outros. Basta lermos o que nos foi legado por escrito.

Chamados a Obedecer civilmente

Inclusive na Bíblia a igreja é ordenada a respeitar, obedecer as leis e orar pelas autoridades da nação, quer gostemos da lei ou sejamos de esquerda, direita, centro, oposição. Obedecer as leis e decretos.

O único limite são leis que nos exijam fazer algo que é pecado, como leis que permitam pecar contra o próximo o (p.ex. racismo/xenofobia), a negar a nossa fé ou adorar a outro além de Deus (como um líder político, um ditador ou imperador). A escravidão era legalizada, tanto como o apartheid, mas nem por isso a Bíblia assim permite tai coisas.
Para mais sobre isso, veja esse outro post meu: Dois Passaportes, Um visto

Nesse ponto talvez os crentes de Atos tenham sido mais resistentes a adorar a César, do que alguns crentes que encontramos defendendo agressivamente figuras políticas e ideologias A ou B, custe o que custar.

Já vi infelizmente pastores formadores de opinião proclamando que devíamos "rasgar a constituição" já que o Supremo Tribunal Federal voltou a proibir os cultos. Esses pastores deviam é doar (e não rasgar) suas bíblias, pois evidentemente não a leram com zelo.

Pregam abertamente desobediência civil, a anarquia, quando o livro-base da nossa fé diz que devemos orar pelas autoridades, abençoar os que nos perseguem (quando perseguem), e obedecer as leis dos homens até o limite onde fere a lei de Deus.

Pastores que levam a desobedecer a Deus não são exatamente bons pastores.


Mas e a eclesiologia?

Li também que "líderes cristãos que defendem o lockdown evidenciam sua eclesiologia falha" - ou seja, de que não entendem a dinâmica espiritual do culto coletivo, pois "neste momento (de culto presencial), não é apenas cantoria e meditação, é um momento onde Jesus se faz presente".

De fato, nós não cultuamos alguém que está longe no Céu, e sim um Jesus que prometeu se fazer presente no local quando nos reunirmos em nome Dele. Mas não existe apenas uma forma de se reunir em nome Dele, existe? ou então estamos dizendo que Aquele que apareceu ressurreto, que venceu a última limitação da vida física - a morte - se torna incapaz de se fazer presente nos lares quando assistimos e cultuamos online?

A afirmação beira o absurdo quando pensamos que, antes do covid, muitas igrejas faziam seus cultos domingo das 19h às 21h simultaneamente. Mas Jesus estava presente em todas ou alternava entre cada uma?

E quando você não pertence a uma família convertida, e tem que prestar culto escondido no seu quarto, sem cantar alto, orando de madrugada, aflito(a), Jesus não se faz presente nesse pequeno culto no quarto ? "Puxa, sinto muito minha filha, eu podia ajudar mas você não atingiu a cota de 2 ou 3, para poder me invocar".

Não é mais honesto reconhecer que Jesus deixou explícito que:
  • onde estivessem 2 ou 3 reunidos em nome Dele, Ele estaria ali presente, seja no templo, seja na casa, na praia, Ele não citou local.
  • devemos ter intimidade com o Pai no nosso quarto, secretamente, e o Pai secretamente nos recompensará. Neste caso nem 2 ou 3 são, mas apenas 1 com sede de Deus

Uma família que assista o culto online já tem 2 ou 3 pessoas, então já conta.

Todas as outras relações comunitárias de uma igreja (e são importantes), como discipulado, solidariedade, ensino, todas podem ser mantidas de maneiras diferentes e seguras. Se não em 100% mas 95% das igrejas tem como faze-lo!

A igreja precisa ser sensível ao entorno dela. A igreja precisa ser parte da solução e não da complicação do problema.
Estamos dando um péssimo testemunho aos que não são cristãos. Tem gente nao-cristã que está limitando a si mesmo para ajudar a passar pela pandemia. Mas olha no noticiário e vê bandeiras "evangélicas" bradando por cultos presenciais. E esses gentios, não cristãos, se perguntam e nos perguntam: "Vocês não se sensibilizam com isso? não tem compaixão com os outros seres humanos? é isso que vocês pregam?"

Não existe eclesiologia sem que ela leve em conta que a igreja está inserida no meio do Mundo, em gente que vai estar de olho. Atenta ao testemunho, aos valores, e também à hipocrisia.

E a nossa fé não é no culto e no templo, é no Jesus ressurreto. Pode ser no templo. Pode ser presencialmente. Mas não precisa ser, especialmente se isso prejudicar o meu irmão/irmã.

Nos primeiros 3 séculos de cristianismo, sequer tínhamos templos cristãos. Os cristãos eram chamados de "ateus" pelos romanos, pois para eles todo culto tinha um templo do deus adorado. Os romandos tinham vários deuses. Os egípcios e outras etnias tinham outros deuses e somente no templo podiam fazer suas obrigações religiosas. Mas os cristãos não. Nao tinham imagens, estátuas, templos. Eram um escândalo para Roma!

Mas o evangélico atual importou do antigo testamento, tudo aquilo que o próprio Deus deixou para trás no Novo Testamento. Altar, sacrifício, templo, vestes especiais, tocar o shofar (tipo um berrante sertanejo, mas judeu). Quando o dono do nome "cristão", o Cristo Jesus, disse para a mulher no poco de Sicar, "nem aqui no monte Gerizim, nem no monte Moriá em Jerusalém, agora os adoradores verdadeiros vão adorar em espírito e de verdade".

Ah, e tem o argumento "mas o culto é pra Deus, é fazer a Obra, Deus vai proteger, Deus há de guardar".  Se expor ou expor os outros voluntariamente não é um ato de fé, é um determinismo cego de "se eu pegar covid é porque é da vontade de Deus. Se eu transmitir ou morrer é Dele o plano". Nao temos o direito de exigir quando o milagre vai ser feito ou não. Mas temos 100% de obrigação de colher aquilo que plantamos. Essa espiritualização alienada esquece que o Deus que abriu o Mar Vermelho é o mesmo que criou os ciclos naturais com sol, chuva, estacoes, e leis naturais como a gravidade.

Quem age imprudentemente, quem se expõe ao risco (ou expõe os demais) voluntariamente, está sendo como Satanás, pedindo a Jesus para se jogar do pináculo. "Deus há de guardar você com seus anjos, nada vai acontecer de mau". Essa frase não é minha, é do próprio Diabo, distorcendo uma verdade na forma de tentação. não cabia a Jesus decidir quando o livramento vai acontecer. Isso é tentar a Deus, é querer dizer a Ele quando agir com leis naturais e quando agir com milagres. E Jesus era Deus. Você não. Então, menos, ok?

Sim, é importante reforçar que não devemos deixar de confiar em Deus, não devemos nos permitir ter ataques de pânico, medo de existir, medo da morte, não nos permite murmurar dizendo que Deus nos esqueceu. Não ter alegria na vida, não ser grato pelo que tem em casa. Por estar vivo, ainda que por hora limitado. Pois ainda que morramos, viveremos eternamente. O viver é Cristo e o morrer é lucro, se estamos salvos Nele. Devemos ter espaço para o luto, para a tristeza, mas não para a murmuração e o pânico.

Mas nada disso nos dá o direito de expor o próximo, tentar a Deus expondo a nós mesmos, e saindo sem real necessidade (trabalho, compras, médico). Devemos aliar confiança com prudência - se realmente precisarmos sair de casa para trabalhar, comprar mantimentos ou remédios, ou ir ao médico, então que usemos máscaras, álcool gel, que possamos ir sozinhos e não com o carro cheio de gente. Ir e voltar o mais rápido possível, com o mínimo de proximidade com outros. Confiança de que fizemos a nossa parte, nos protegemos e protegemos os demais ao redor, e que se realmente vier alguma doença, será realmente algo que era pra acontecer nos planos de Deus, e não algo que Ele permitiu colher por nosso descaso.

Prudência não é falta de fé, é ter uma fé madura, de que Deus não é uma força que eu controlo, um algo místico que me blinda para eu perseguir meu prazer. É entender que o evangelista Lucas não deixou de ser médico ao se converter, nem Paulo deixou de recomendar a Timóteo que tomasse um pouco de vinho com água para seus problemas de estômago. Oramos, ungimos, e tomamos remédio. Pedimos proteção mas não nos expomos de propósito.


Liberdade acima de Tudo, até Dele

Bandeira Ancap

Tem muito cristão vociferando que estão atacando nossa liberdade, é assim que começa a ditadura. Gritam que liberdade é a única coisa que importa defender, pois sem ela estamos condenados à servidão do Estado. Eu mesmo já estive, antes da pandemia chegar, muito envolvido e adepto ao anarcocapitalismo - uma espécie de anarquia, sem Estado, sem governantes, em que prevalecem as relações de troca entre os indivíduos. Capitalismo sem qualquer restrição que não seja acordado antes por contratos. 

Liberdade acima de tudo, de todos, nada é mais sagrado. Mas hoje já não consigo sustentar a mesma filosofia, após ler a bíblia por completo (aos 35 anos de idade e 20 de igreja, não tinha feito isso, como a maioria também nunca fez).

Basta caminhar um pouco pela Bíblia para ver que a liberdade não é um valor absoluto e inegociável no Reino de Deus. Pelo menos, não é absoluta para os cristãos. E a nossa natureza pecaminosa nos torna predadores de nós mesmos e do próximo.

Se há algo que a lei dos homens e a Bíblia me permitem fazer (sem cometer nem crime, nem pecado), mas ao fazer eu entristeço ou afasto o meu próximo, então eu como cristão mais maduro na fé, devo evitar de fazer isso. Devo limitar a mim mesmo, por amor ao próximo. Devo deixar de gozar minha livre escolha nisso, em prol do próximo.

Isso fica claro em Romanos 14:15. Depois em 1 Coríntios 8:9-13. E em especial, em 1 Coríntios 10:23-33 (resumido):
Podemos fazer de tudo, agir como quisermos. Sim, mas nem tudo é útil, ou bom, ou conveniente. Nao devemos buscar apenas o que queremos, mas sim buscar o interesse do outro. Deixem de fazer tudo o que podem/querem, quando isso atrapalhar ou levar o outro a pecar.

Você podes podem perguntar "porque a minha liberdade deve ser diminuída pela consciência do outro?" - para não afastá-lo de conhecer a Deus, por estar escandalizado ou triste com sua atitude. Vivam de tal maneira que não prejudiquem os judeus, nem os não-judeus, nem a igreja de Deus 

Somado a isso, temos Romanos 12:18 : "no que depender de vocês, busquem viver em paz para com todas as pessoas".

Toda a experiência crista horizontal é baseada no movimento de sair de mim em direção ao próximo. Pensar nele, em buscar cativá-lo, atendê-lo nas suas necessidades, e estabelecer uma ponte de comunhão e intimidade. E evitar a todo custo, mesmo custando minha liberdade de ação, entristece-lo, afasta-lo ou fazer com que cometa pecado.

Porém a politização da pandemia reforçou a mistura bizarra de política e religião que temos visto. Há crentes que escolheram cegamente um lado do espectro político, e compram "o pacote completo", sem avaliar se tudo que vem dentro é coerente com o Reino de Deus.

E antes que você comemore o seu lado político, é evidente que o Reino de Deus não cabe nem na anarquia/revolução, nem na ditadura e opressão. Nem idolatria do Estado nem combate ao Estado.

Porém a politização tem levado sim a cristandade a negar o seu verdadeiro Reino, em prol de alinhamentos da bandeira A ou B, do movimento C ou D. E isso é péssimo para o testemunho do que realmente queremos publicar: o Reino.


Mas e a liberdade religiosa? Estamos sendo caçados politicamente!

Estamos mesmo?


Não, não estamos. Politicamente nunca tivemos tanta influência. Temos bancadas nas 2 casas legislativas em Brasília. Nunca fomos tao numerosos. Perseguidos são aqueles no Irã, na China (onde há vigilância severa em todo cristão) e em países em que é crime de fato ser cristão. Podemos sempre questionar se as tais bancadas realmente representam o interesse dos cristãos - uma limitação da democracia representativa. Eu acho que não. Em suas redes sociais, vemos muitas vezes comportamentos bem aquém do Senhor que dizem seguir. 

Nao somos impedidos de ter cultos transmitidos online. Nem de postar mensagens da nossa fé. Nem de usar camisetas com dizeres da bíblia, nem mesmo de ouvir música evangélica enquanto fazemos faxina.

É claro que a maneira de vermos o mundo, nossos limites e permissões nos colocam em choque com várias "tendências e verdades" da sociedade moderna. Sabemos desde a composição do Novo Testamento há quase 2000 anos que haveria perseguição. Que há de ser assim. Filhos vão delatar pais, e pais delatar os filhos às autoridades. Na época em que cristãos eram capturados simplesmente por serem cristãos, e jogados aos leões em espetáculos para centenas de romanos curtirem, isso não foi nenhum problema para a expansão da igreja. Pelo contrário. A repressão acelerou a adoção da fé cristã a ponto de em 313 dC o imperador ter de permitir, e depois querer controlar a enorme massa de cristãos.

E historicamente a partir daí, quando poder político se misturou com religioso, foi que tivemos mais problemas.
Assista ao excelente filme Quo Vadis, de 1953, com Debora Kerr, retratando essa época. E você não se emocionar, já morreu por dentro!

Mas e a economia?

Para os que já se foram, não há chance de reerguer-se economicamente. Não há chance de negociar boletos. Eles se foram. Além de deixar a família em luto, ainda não conseguirão mais saldar suas dívidas. Buscar doações.

A economia é como transformamos o nosso esforço em sustento. Mas mortos não transformam nem produzem nada além de saudade e dor nos que ficam.

Toda profissão é digna, do mais simples ao mais complexo cargo.

Mas para a igreja, para aqueles que se dizem Do Caminho, do Reino, essencial mesmo é ter empatia, como nos foi pedido por Aquele que podendo ser mais, decidiu ser menos por amor a nós. 
É hora de proteger aqueles que nos cercam, como o Sal da Terra. Nao de espalhar doença como o antrax.