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domingo, 5 de dezembro de 2021

Uma triste realidade - Nós? Quem?


Recentemente revi um filme maravilhoso dos anos 60, chamado "A máquina do Tempo", baseado no livro de mesmo nome, do lendário H.G. Wells. Busquem onde assistir, vale muito a pena (e não percam tempo com a versão de 2002!!). Conta a estória de um cientista que, na virada de 1899 para 1900, tem sucesso em criar uma máquina do tempo e viaja para o futuro para ver as maravilhas que a humanidade iria ter como civilização, em 10, 100, 1000 e 100.000 anos. E o filme traz uma reflexão profunda (aliás, várias boas), que me levou a juntar as peças para falarmos de realidade.

Vamos partir de uma definição de realidade - a leitura percebida pelo ser humano do seu entorno imediato de tempo e espaço, bem como a projeção das coisas não imediatas, que são muito grandes ou muito pequenas em relação à escala que podemos perceber, seja em tempo (como passado longínquo ou futuro distante, ou imagina um milésimo de segundo), espaço (o tamanho da Lua, ou o peso em toneladas, de uma baleia, o tamanho de um vírus). Ou seja, coisas que podemos perceber e entender a partir do nosso cotidiano, e coisas que são muito grandes ou pequenas e só podemos imaginar.

A realidade sem Deus é uma história triste. Ela começa como um acaso (o big bang) e termina com o desaparecimento do questionador. Um acidente demorado que gerou seres capazes de questioná-lo apenas para descobrir que vão desaparecer por completo. E que na escala do Universo, são insignificantes e tratados por ele com indiferença. E que sequer temos capacidade de procurar outros como nós no universo, por causa dessa escala. Não sabemos se estamos sozinhos mas até o momento ninguém nos responde de volta.

Somos pessoas que na maior parte das vezes sequer são irrelevantes na sociedade enquanto estão vivas, quem dirá depois de algumas gerações. Normalmente serão relevantes para os seus familiares ou talvez para sua cidade por 4 ou 5 gerações, se muito chegando a 200 anos de "legado". Duvida? escolha uma rua da sua cidade, ou a sua rua mesmo, e me diga de imediato quem foi essa pessoa ou essa data que dá nome a rua? Tente fazer sua árvore genealógica 2 ou 3 gerações antes dos seus avós. Quem foram?

Se forem excepcionais à frente de novas idéias ou movimentos, talvez durem alguns séculos. E em alguns raros casos, alguns milênios, se considerarmos Jesus apenas como figura histórica, assim como Platão, Sócrates, Ghengis Kan, Átila o Huno, Alexandre o Grande, etc.

Mas estes grandes nomes da História, na escala do próprio tempo do planeta, são o que? 2000 ou 3000 anos de "relevância" em um planeta que viu  dinossauros, que viu continentes se moverem? qual é a relevância de uma revolução social , um golpe de Estado ou um grande livro inspirador, para a Terra durante sua corrente existência? é um mamífero esquisito que suja mais e briga mais do que os demais. Seja a Revolução Francesa, seja a libertação das nações colonizadas ou os protestos não-agressivos de Ghandi, em milhões de anos nada restará, e será tão poeira quanto a poeira que já rolava no chão há 1 milhão de anos. Toda História e luta, um triste desperdício de energia e tempo.

A torre mais alta de Dubai vai ruir, o Edifício Itália em São Paulo, a ponte estaiada e o Cristo Redentor também. Em 1 milhão de anos - alguns minutos no relógio da Terra, alguns segundos no relógio do Universo  - nenhum deles estará lá. E provavelmente tampouco haveria alguém para olhar para ele e entender o que significou, quem fez, qual a mensagem que passava. Vieram do pó (concreto) e serão de novo pó.

Isso pode ser bem ilustrado na música de abertura do seriado sitcom "The Big Bang Theory" - na versão completa, abaixo:



Ainda temos um vídeo ainda bem legal para ilustrar a nossa pequeneza em relação ao tempo do nosso planeta. A indiferença que o Universo frio tem pela vida em si (houve várias extinções em massa antes dos humanos). Se o planeta Terra tivesse 24h de vida, nós apareceríamos as 23:57 ou seja, nos 3 minutos finais!


Todas as idéias, revoluções, lutas por ideais, construção de impérios e sobrenomes, grandes construções, as descobertas e invenções, para o universo acidental é indiferente. Nossa sociedade de humanos é o único lugar em que isso é relevante. A nossa sociedade portanto é uma forma humana de tentar dar relevância, de perpetuar a nós mesmos física (filhos) e simbolicamente (idéias) e fingir que fugimos do nada que se aproxima a cada dia de nós, e nos alcança no dia da morte, bem como do nada que inevitavelmente vai solapar a Humanidade. Mas imaginar que seremos lembrados ou que deixaremos um legado por hora nos ajuda a abafar a angústia da finitude, a pensar que de alguma forma continuamos.

Se parece com o conto do Dr Seuss, onde num grão de poeira existe uma cidade inteira de minúsculos seres chamados de Quem, a Quem-lândia, cheios de problemas e discussões. Esse conto foi adaptado na animação de 2008 abaixo.


É triste. É como se toda a agitação da Humanidade fosse aquela festa de multicores acontecendo na superfície de uma bolha de sabão.

É uma grande apresentação de teatro para um enorme estádio vazio e escuro, onde somos ao mesmo tempo atores e criamos nossa própria iluminação, figurino e efeitos sonoros. Mas a partir do momento em que pararmos, estaremos imersos no silêncio escuro do estádio.


Bom, então poderíamos dizer que é a Humanidade, a nossa sociedade humana que tem a missão de lutar contra o nada, contra o vazio de sentido do universo auto-gestado, auto-criado, um universo sem Deus, um universo triste. Logo, a coisa valiosa a se defender são as grandes idéias, o espírito humano, a sociedade. Se para o universo somos uma antiga poeira que rola para ser uma futura poeira, então o sentido da realidade, o significado dela, deve estar no espírito humano e suas produções. Afinal, a única chance de ficarmos um pouco menos "mortais" é tentarmos nos eternizar nas páginas da nossa própria História, já que nas páginas do Universo até o Sol tem data de estréia e de término.

Se nossa eternidade e significado não está no universo, está com certeza na Humanidade, na nossa civilização!

Bom, o século XIX produziu muitas idéias, que foram testada com todas as forças no século XX, que desembocou em centenas de milhões de mortos em duas guerras mundiais, somadas a diversas guerras menores e somados aos massacres e extermínios em nome de ideologias, utopias e planos humanos de um futuro ideal. Isso pra ficar somente nos últimos 200 anos de História. Fora as demais tragédias e barbáries das civilizações anteriores que sumiram.

Criamos monumentos, edifícios, muralhas, lagos e ilhas artificiais, lutamos e morremos epicamente, queremos colocar nosso nome em algum lugar que dure mais do que nós mesmos. Uma tentativa desesperada de sermos ouvidos pelo universo e dizermos pra realidade que nos cerca "Estamos aqui!"

Isso aparece também em Gênesis 11, quando a torre de babel foi iniciada pelos humanos:

Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos famoso o nosso nome, para que não sejamos esquecidos pela terra.Gênesis 11:4

Veja se não é a mesma coisa na cena abaixo. O elefante Horton (o único que desconfia que tenha mesmo uma civilização no grão de pólen) está sendo levado pra "panela" pelos que não acreditam em sua idéia. Veja como os Quem tentam mostrar que existem. No filme, eles conseguem. Mas até hoje o universo nem nenhum de seus possíveis habitantes respondeu.


Então estamos "fritos". Não escapamos do nada em direção à imortalidade nem na nossa própria civilização. Tem muita gente no mundo hoje que não sabe quem foi Nero, ou que acha que era um programa de copiar e gravar CD antes de inventarem o streaming e o torrent.

Por todo lado vemos o nada, a tristeza do vazio, do apagar das luzes de cada um e do todo. Essa realidade é triste, porque ela não significa nada para ninguém, apenas para o pequeno grupo de macacos ansiosos que suja, mata e procria demais.

Não conseguimos ser relevantes nem para o Universo nem para a Civilização! você morrerá e será em breve esquecido e um pouco depois, diluído no meio da matéria do Planeta.

Só nos resta aproveitar os poucos anos e esperar o nada chegar...uma realidade triste que tenta fingir que é alegre mas nenhuma alegria é genuína se a gente sabe lá no fundo que vai virar tristeza.

Mas a realidade pode ser diferente

Toda essa tristeza - pelo menos para mim - parece vir da sensação de desperdício, é uma pena e uma perda enorme saber que existimos e depois descobrir que não temos um "para que" e nem um futuro "para onde". Que as experiências que vivemos serão apagadas com o enfraquecimento da química cerebral e morte dos neurônios. Que lutamos e morremos como em Hamlet, em que Shakespeare declara através de seu personagem

"A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem sentido algum"

Essa sensação de que a morte nos é estranha, uma inimiga que não devia existir, me leva a crer que ela não devia mesmo, e que o ser humano é talhado para algo maior que si mesmo, algo eterno. E encontro em Eclesiastes o Sábio dizendo que:

Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também colocou no coração do homem o desejo profundo pela eternidade; contudo, o ser humano não consegue perceber completamente o que Deus realizou. (Eclesiastes 3:11).

Num mundo com Deus, ela passa a ter um propósito, uma função a cumprir. O universo passa a ser o berço formado para nos conter. Para através das escalas inimagináveis de grandeza e força da Natureza, nos ajudar a pensar na grandeza e forças de Quem o projetou, montou e nos pôs dentro. Os céus proclamam a glória de Deus e anunciam seu poder, sua majestade.

A maneira como as leis da natureza se inter-relacionam e a matemática por trás nos trazem uma noção de intenção, de projeto intencional por alguém poderoso o suficiente para dizer a um átomo "fique" e a uma radiação "vibre" e ainda deu a eles padrões a serem respeitados.

Assim sendo, o universo existe por nossa causa, pra que conheçamos a Deus e tenhamos um leve conceito sobre sua grandeza. Agora o jogo virou - o Universo sem nós é que passa a ser vazio e triste, sem sentido e fadado ao nada!

A nossa existência, nossos atos, conquistas, dificuldades, passam a ser relevantes não apenas para nossos parentes ou colegas, por algumas gerações, mas agora pelo próprio Deus e pela Eternidade.

O frio do abismo não mais gela nossos pés conforme andamos em direção ao futuro. Não temos mais um ponto final solitário mas uma festa eterna em que somos convidados, aguardados - uma festa que tem o seu "esquenta" no dia em que aceitamos Jesus, quando nos arrependemos o Céu faz festa. E o anfitrião nos aguarda.

Passamos de um pedaço de material sem sentido para alguém que vai receber uma pedrinha branca com um nome único das mãos do Cordeiro - ou seja, uma identidade que é só nossa.

Antes o universo era indiferente a nós, nos esnobando com seus bilhões de anos e galáxias gigantescas, mas com Deus nós passamos a sermos valorizados por Aquele que fez o próprio Universo. Ou seja, não precisamos mais mendigar significado e importância para o Universo, pois Alguém acima dele nos considerou únicos e dignos de um relacionamento pessoal.

O Universo frio e indiferente achava que era a "menina mais bela do baile" e acabou descobrindo que o baile era pra gente, pros filhos de Deus, e que ele estava ali só pra nos receber e entreter.

A realidade não precisa mais ser triste, pois temos um projeto de início, de meio e um fim que não é fim de curso, é fim de finalidade, que é passar a eternidade com Cristo.

Toma essa universo! a minha realidade é Cristo, é alegre porque eu sei onde vai dar e que há sim sentido, alguém ouvindo e cada um nesse grão de pólen chamado Terra tem um plano único e uma atenção especial se buscar a Deus de coração.

Mudamos agora desse vazio existencial para uma noção de missão: nosso propósito aqui não é sobreviver enquanto arranja atividades pra esquecer do abismo. E sim através do Universo, "desconfiar" que Deus exista, buscá-Lo e encontrá-Lo em Cristo.

Graças à Ele, eu não preciso mais ficar perdido tentando achar um jeito de ser imortalizado ainda que temporariamente (por mais contraditório que isso seja), na mente e na cultura da minha civilização, cujos gostos e desgostos muda anualmente. Eu já tenho a eternidade através de Cristo, e em retribuição (já que não há troca possível com Deus) eu vivo e lido com a realidade através dos limites que Ele estabelece.

Eu não preciso perder tempo tentando ser grande, pois para Ele (que me concede a Eternidade), o menor e maior são critérios aferidos no Reino Dele. O maior dos profetas é considerado pequeno no Reino dos Céus. Eu já sou grande por ser chamado Filho Dele, irmão de Cristo. Eu não serei esquecido, mas deixarei um legado que Ele manterá por mim, quando eu não estiver mais aqui: a expansão e aperfeiçoamento da Igreja, não da placa da denominação, não da vertente teológica X ou Y, mas da Igreja macro, que faz a Obra, o bem, a justiça, no micro, sem ser vista e sem ter nada em vista a não ser a gratidão. Não a que faz cruzadas, mas aquela que ajuda quem cruza seu caminho, como o samaritano na estrada.