Não é brincadeira a quantidade de críticas que existem
circulando na web sobre Russel Crowe no novo filme Noé.
Eu gostaria de escrever o que achei do filme do ponto de
vista de quem gosta de filme.
Desde os fundamentalistas religiosos até os fundamentalistas "anti-biblia: Todos tem algo a acrescentar, evidenciar e julgar.
Desde os fundamentalistas religiosos até os fundamentalistas "anti-biblia: Todos tem algo a acrescentar, evidenciar e julgar.
O blog Drops de Fé é pra coisas da fé, mas a fé muitas
vezes deve ser prática e ultrapassar a religião, não ignorando que estamos no
mundo, mas amando e retendo o que é bom!
Mais pro final eu dou uma comentada mais “crente”, por
hora falemos de cinema!!
O filme é um épico blockbuster
perfeito. Excelente como épico.
Paisagens e Cores
A cenografia é muito boa, marcante. Sejam pastos verdejantes
ou colinas desoladas, a paisagem é recheada de elementos intensos e que transmitem
a sensação que o lugar deveria passar a quem lá estivesse.
A iluminação do filme é muito bem feita, sendo sombria
quando tem que ser, quente e acolhedora quando o momento é de intimidade e ternura,
e claro e majestoso quando os eventos precisam. Não é daqueles filmes que ficam
escuros e cinzentos o tempo todo.
Assista em 3D digital se puder, vale muito a pena!
Ritmo
O ritmo do filme é intenso, e nos poucos momentos de calmaria,
o diretor coloca certas revelações ou interações entre os personagens, a fim de
comprimir a mola do enredo para mais uma sequência intensa.
Aliás, os momentos de ação, de drama e tragédia são o que
são e foram muito bem interpretados. Russel Crowe foi capaz de ser o bondoso devoto,
e também o radical cruel, de maneira convincente. Noé neste filme não deixa de ser
humano, ter dúvidas, raiva, sangrar e suar. Tem um ar revival de gladiador no Noé de Crowe, mas que foi bem dosado.
Emma Watson foi bem mais marcante do que sua costumaz Hermione
de outrora, batendo um bolão de drama em seus momentos com Noé. Mas ainda acho que
falta ela ter mais abertura e movimento nos olhos. Eles continuam com pouca
expressividade.
Anthony Hopkins está como sempre, um ator de primeira
- e cada vez mais - rara grandeza, fazendo um Matusalém digno de se ver.
Do ponto de vista de humanidade, o que se diz por aí é verdade - o filme deixa Noé e outros personagens citados, muito mais humanos e "feitos de carne e osso", sendo capazes o tempo todo de fazer tanto o bem quanto o mal (que teoricamente está justificando o dilúvio).
Detalhes valiosos esquecidos...
Apesar de tanta coisa boa no filme, o figurino das
pessoas no filme está com ares de Mad Max, pessoas usando calças e camisas de manga,
ambos feitos de couro, pele de ovelha e outros tecidos rústicos...bem distante
do que se poderia esperar a mais de 6000 anos atrás.
Veja na foto que até touca as blusas tinham. Até pra um filme de Robin Hood estaria "morderninho".
Veja na foto que até touca as blusas tinham. Até pra um filme de Robin Hood estaria "morderninho".
Idem para facas de aço e utensílios
semelhantes, que só apareceriam muito tempo depois quando o homem iniciou a
forja de metais.
Aliás, diga-se de passagem: para quem defende tanto o vegetarianismo implicitamente, os personagens usarem materiais de couro é meio contraditório (risos).
Veja que a bíblia narra que Zípora esposa de Moisés usou uma
pedra afiada para circuncidar o filho Gerson a caminho do Egito. Facas de
sílex, de pedras lascadas e coisas semelhantes eram mais plausíveis.
Outra coisa - o pessoal usa sapatos!! botas de couro estilizadas, parecidas com a Idade Média! Tenho muitas dúvidas se isso seria possível.
Roteiro
Agora vamos à história, ao enredo, o roteiro do filme.
O enredo é bem linear e entrelaçado, sem aqueles momentos
do tipo "de onde raios sai essa coisa?" ou "como assim a
história chegou nesse ponto?". Palmas pra produção do filme.
O roteirista explora bem os ícones ou marcos da narrativa
bíblica, preenchendo as partes entre eles – não contados nas escrituras – de
maneira inteligente.
Qualquer adaptação ou história escrita no século 21 –
como esse novo Noé – vai carregar as preocupações e morais do século 21.
Em Noé (2014), a temática central é o castigo de Deus
sobre a humanidade que “estragou” a Criação linda e perfeita. Que Deus está
erradicando uma praga, pois não sabemos usar da Terra o que ela oferece na
medida do necessário somente.
O Greenpeace (que eu admiro) ficaria muito satisfeito. É feito uma defesa dos animais, e também certo preconceito do
hábito carnívoro do homem, tratando como algo supersticioso e desnecessário. É
citado que o homem deveria cuidar de cada par de bichos pois eram preciosos
para a Criação e únicos, que não poderíamos descuidar e deixar que uma espécie
sumisse da face da Terra!
Um comentário “mais cristão” (parêntesis propositais)
Como cristão, posso tecer comentários sobre a história
contada.
Se você espera um retrato da narrativa bíblica, esqueça.
É baseado nela, mas virou uma história a parte. Muito boa e empolgante. Mas a parte.
Se você quer a história original, leia em Gênesis. O filme em questão é pra curtir,
não pra doutrinar! Se você espera uma aula de Escola Dominical feita por Hollywood, continue esperando (risos)...
Lembre-se que é um filme de Hollywood, e precisa dar lucro.
Precisa ter elementos típicos de filmes épicos, arquétipos como o herói, a
escolha do herói entre o caminho do bem e das sombras, o mito do vilão
arrependido que alcança paz e se redime, etc, etc.
O roteirista claramente teve contato com o livro apócrifo
e pseudoepígrafe de Enoque (citado na epistola de Judas no NT), especialmente
no tocante aos anjos Sentinelas que caíram expulsos do Céu, algo citado também
na Bíblia atualmente aceita, nos livros de Genesis (cap 6) e Judas.
A lógica da queda desses anjos (Gen 6, e Apócrifo de
Enoque) foi invertida, e eles passaram a ser “os injustiçados” por terem tido
compaixão do ser humano expulso do Paraíso. O fato de eles terem tido filhos
mestiços com as humanas nem foi citado!
Foram incorporados ao enredo personagens diferentes ou
fora de contexto, como Tubalcaim que era construtor e não um general. Ila, a filha
adotiva de Noé (pra dar um drama), que é esposa de Sem.
Falando em personagens alterados, o filme trata o Matusalém, avô de Noé, como um velho curandeiro, cheio de mandingas e mágicas para curar e alterar as coisas...como um velho pajé ou druida...
Uma coisa bem retratada – e caricaturada no Tubalcaim
da história – é a violência e brutalidade da humanidade daquela época,
animalizada. Muito bem retratado a grosseria, o quão “broncos” eram aqueles que
viviam. Muitas vezes lemos textos da Bíblia no Antigo Testamento e esquecemos
que o homem daquela época matava e mutilava os inimigos, e ia dormir super
tranquilo. Diferente do homem de hoje, todo polido, com etiqueta e opiniões do
que é certo e errado, politizado...
Enfim meu querido e minha querida, se você espera um
filme que te faça aprender essa história da Bíblia, espere os irmãos Kendrick
filmarem Noé, e fazer sucesso como em Desafiando Gigantes e A Virada. No mais,
não procure pelo em ovo, lembre-se que o filme é hollywoodiano e tem que bombar
nas telonas.
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